O ENEM grosseiramente substituiu a expectativa do vestibular. Acabou o sonho da lista de classificação, a tortura dos rádios de pilha e os gritos esfuziantes da vitória e o choro daqueles que não lograram êxito. 

Os cursinhos eram a assinatura e a marca registrada da época dos vestibulares. Os cursinhos do Professor José Maria do Amaral e do Professor Horácio eram voltados para a área médica. O CIPE do Professor Marcus Vinicius para a área técnica e o do Professor Alberico Carneiro para a área humanas. Quem quisesse passar, passava por um desses cursinhos. Era a certeza de um aprendizado eficaz.
Algumas características da época são inesquecíveis e devem ser lembradas, como os bonequinhos do “amar é…” adesivados nos cadernos das alunas mais românticas dos cursinhos e o retrato em 3 x 4 da namorada guardado visivelmente na carteira. Trazer o retrato da namorada era a prova maior de fidelidade e de namoro sério.
Entretanto, bem antes do vestibular e dos retratos em 3 x 4 ou dos adesivos nos cadernos, existia o exame de admissão e pouca gente se lembra, a turma mais jovem não sabe o que é um exame de admissão, não tem ideia do que seja este processo seletivo.
O exame de admissão era uma situação imprescindível para o aluno ascender do curso primário para o ginásio, ou do ginásio para o curso científico. O exame era realizado tanto pelas escolas públicas, quanto pelas escolas privadas. O Liceu, Escola Normal, CEMA e Escola Técnica eram as instituições públicas mais requisitadas e de maior concorrência. O Marista, Rosa Castro, Atheneu, Colégio São Luís, São Vicente de Paula e Colégio Santa Teresa estavam entre as escolas de maior procura da rede privada. Não restava outra opção que não fosse este exame de seleção.
O preparativo era tão intenso quanto o vestibular, e a expectativa dramática!
As opções de ensino eram poucas e as aulas preparatórias, as aulas particulares, eram de fundamental importância para o ingresso em uma dessas escolas. Os professores de vasta cultura, experiência comprovada de ensino e com excesso de rigidez e exigência, sempre eram bem vistos pelos pais. A rigidez e o caráter disciplinador eram características e atributos necessários para este processo. Tudo muito diferente de hoje. Aqui valia o castigo, o puxão de orelha, o beliscão e a famosa “lição de moral”. Não existia ou não se ouvia falar em bulling.
Lembro-me de alguns professores extremamente disciplinadores e de notório saber, que fizeram parte da minha vida e de muitos da minha geração. Diversas conquistas acadêmicas e profissionais tiveram a decisiva participação destes professores. Professores como os irmãos Nascimento de Moraes (Nadir, Paulo, José e Nascimento de Moraes Filho) possuíam todas as qualidades que se espera de um professor: saber, zelo pelo aluno, autoridade e dedicação. Tenho lembrança de todos, das aulas de geografia da Professora Nadir, das aulas de português de Paulo e José Nascimento de Moraes, e da erudição de Nascimento de Moraes Filho. O Instituto Raimundo Cerveira e posteriormente o Colégio Zoé Cerveira, de propriedade da família Nascimento de Moraes, não era somente uma escola familiar, era a referência da intelectualidade maranhense a disposição do ensino.
Não existia em nenhuma outra escola com tantos “imortais” quanto o Instituto Raimundo Cerveira.
Professores como Dona Manoela, que disciplinava e ensinava os alunos do Colégio Maristas, período em que era a única pessoa do sexo feminino a ensinar naquele colégio. Professora Cota Varela, com aulas particulares disputadíssimas e com um vozeirão característico, ensinava e disciplinava com aquiescência de todos os pais e sua autoridade jamais poderia se contestada.
Tudo valeu a pena, nada foi desperdiçado, a lembrança e orgulho dos meus professores permanece, um dia terei o prazer de reencontra-los em uma outra dimensão e quem sabe, assistir uma aula e adquirir novos conhecimentos.
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO