Por Ruy Palhano – médico psiquiatra – escritor
A ganância é um sentimento, caracterizado pela volúpia incontida, pela vontade incontrolável de possuir tudo, especialmente o que essas pessoas admiram para si próprio. É ambição desmedida, é a avidez por algo, é a cobiça, a avareza, a concupiscência, a usura e a cupidez. É a vontade exagerada, incontrolável e apetitosa de possuir as coisas. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material, qual seja, o dinheiro e outros bens materiais. Quase sempre realizam ganhos ilícitos, ou estão sempre atras de outras formas de poder, onde os gananciosos influenciam outras pessoas a se deixarem corromper, manipular e a enganar para garantir suas intenções.
Em Aurélio, a palavra ganância vem do espanhol, ganancia, esp. Ganar, ganhar, significa ambição de ganho, ganho ilícito, usura, ambição desmedida. Em Michaelis trata-se de uma ambição desmedida de ganho, ou lucro, ambição, avidez, cupidez. Em Dicio dicionário online, ganância é ambição, cobiça ou desejo intenso, imoderado por bens e riquezas. É busca incessante pelo lucro; agiotagem, usura. Vontade intensa e permanente de possuir ou de ganhar mais do que os demais.
Para Charles Caleb Colton (1780 – 1832) clérigo inglês “a ambição comete, em relação ao poder, o mesmo erro que a ganância em relação a riqueza: começa a acumulá-la como meio de felicidade e acaba a acumulá-la como objetivo”. É o que ocorre na prática dos ambiciosos.
A ganância, portanto, é um traço abominável da condição humana. Ela nasce com o homem, é um traço de sua personalidade, desde cedo aparece na vida das pessoas e pode prosseguir com ela a vida toda. Muitos podem nascer com esse traço, porém, ao longo da vida, pode se desfazer dele. É uma condição humana, comportamental, trans-histórica e transcultural.
A ganância é e já foi objeto de muitos estudos e especulações, sobretudo do ponto de vista psicossocial e sócio-antropológico. Entre os católicos, é um dos sete maiores pecados humanos, já identificados desde o final do século VI no Papado de Gregório Magno e aqui, a ganância se confunde com avareza.
Gananciosos são figuras insaciáveis, implacáveis, têm um apetite voraz por tudo, especialmente por dinheiro e poder. São avaros e nada os satisfaz, sempre querem mais e mais, de forma desenfreada. Agem compulsivamente atrás de ganhos e dificilmente se desfazem do que têm.
Na história recente de nosso país, por ocasião da histórica Operação Lava-Jato, assistíamos, frequentemente, pela grande mídia, casos notórios de grandes gananciosos serem denunciados ao Ministério Público, devido a uma intensa roubalheira ao erário. Eram pessoas que exerciam papéis importantes no cenário das atividades pública e política, e se comportavam como agentes insaciáveis na obtenção do dinheiro, mesmo por meios ilícitos. Os bandidos se organizavam em quadrilhas, regidas por meios sofisticados de cometem esses crimes e o faziam de forma absolutamente natural, na cara limpa, sem qualquer remorso, pudor ou arrependimento por estarem roubando o que era do povo. Eram gananciosos.
Essas figuras, em geral, são disfarçadas, insensatos, arrogantes e indiferentes, são dissimulados. sentem-se sempre acima de tudo. São indiferentes e se apropriam indiferentemente do erário público de forma natural e tergiversam dentro das circunstâncias que vivenciam.
São também evasivas. Quando são pegos, se sentem injustiçados ante tais medidas. A maioria sequer manifesta arrependimento e sempre procura explicar seus atos. São indiferentes aos danos cometidos pelos seus crimes. Avidez por ganho, lucros, vantagens, tanto por via lícita quanto ilícita são de valores enormes, incalculáveis. É a ganância se revelando em cada uma dessas pessoas. Tornam-se cegos e avaliam mal as consequências de seus atos. Esquecem-se da ética, dos sentimentos de dó e piedade, do dever e da cidadania. Esquecem-se que têm filhos, esposas, amigos e que ainda há quem sinta vergonha no mundo. Seus atos revelam uma disposição desmedida de ter, possuir, dispor de algo, e o pior, que não lhes pertence. É um egoísmo excessivo, inconsequente e incomensurável.
Vejam o que ocorreu com os ladrões da Lava-Jato, a volúpia por dinheiro era suas grandes marcas. Em condições normais de vida, jamais gastariam todo dinheiro que roubaram, a não ser em extravagâncias e na perspectiva de uma vida desmedida, mesmo assim roubaram compulsivamente.
A ganância, como outros comportamentos humanos, é muito influenciada pela cultura e pelo ambiente onde se vive. Vive-se em uma cultura e em uma sociedade que incentiva e estimula a prática da ganância. O egocentrismo, a vaidade, a insinceridade, a superficialidade nos comportamentos pueris são comportamentos comuns na sociedade atual, gerando pessoas arrogantes, presunçosas, desumanas, blasfemadoras e desrespeitosas. E tudo isso acaba por incentivando gananciosos a pretender se dar bem na vida.
O ambicioso, dificilmente, estabelece relações seguras e confiáveis com alguém, pois suas motivações, nas relações interpessoais, são sempre interesseiras, pragmáticas e visam ganhos. São pessoas envolventes e sedutoras e sempre tem na cabeça “dá o golpe” com o intuito de atingir seus objetivos, quaisquer que sejam eles, independente se suas atitudes mesmo que isso possa gerar problemas para alguém, para a comunidade ou para a sociedade. Para os gananciosos a vida e todas as suas relações são inspiradas em um balcão de negócios, por isso mesmo estão sempre atentas as vantagens que pode extrair em suas atividades.
Do ponto de vista psicopatoló A ganância, está diretamente relacionado com transtornos de personalidade antissocial, isto é um traço forte dos psicopatas, pelo seu absoluto indiferentismo afetivo e ausência de sentimentos de culpa ou remorso oriundos de suas atitudes. São figuras malévolas, frias e e insensíveis, sem remorsos, culpa ou arrependimentos, portanto “temos que ter sempre um pé atrás com essas pessoas” pois você pode representar um trampolim para essas maus-caracteres alcançarem seus cruéis objetivos.
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