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Há pouco mais de cinco meses os profissionais de saúde de todo o mundo correm contra o tempo para descobrir como age o novo coronavirus no corpo humano, tanto para elaborar tratamentos e vacinas, como para lidar com eventuais consequências do contágio. E, passado esse período atribulado, algumas coisas começam a ficar mais claras e já se sabe que a Covid-19 é extremamente contagiosa — 4,37 milhões de infectados no mundo —, e é mais grave do que parecia, por ser uma doença infecciosa e sistêmica, que se alastra.

Ao entrar no organismo, o vírus vai prejudicando vários órgãos pelo caminho. Inicialmente, ele invade as vias aéreas, tomando de assalto nariz, garganta e até os olhos, reduzindo paladar e olfato e, em alguns casos, provocando conjuntivite. Ao chegar ao pulmão, responsável pela oxigenação do corpo, ele inicia uma série de reações e, como num efeito dominó, todos os sistemas vão sendo afetados por uma inflamação generalizada. Nessa etapa, a partir do sétimo dia, ele começa a ir além do sistema respiratório, podendo inflamar as veias do sistema circulatório, provocar desarranjo no sistema digestivo, e chegar ao sistema nervoso central, comprometendo órgãos vitais como coração, rins, intestino, pele e até o cérebro.

“É uma doença nova e ainda estamos avaliando todos os efeitos. Mas o certo é que 30% das pessoas internadas têm o rim afetado”, diz o infectologista Marcos Boulos, membro do Comitê de Contingenciamento do coronavírus de São Paulo. Ainda se avalia se a disfunção do coração e a insuficiência renal podem ser causadas pela ação do vírus diretamente ou se seria uma reação do próprio organismo, já que a Covid-19 aciona o sistema imunológico de maneira tão intensa que provoca uma chuva de reações, o que inclui a vasculite, inflamação de vasos, incluindo os do cérebro. “Há informações de problemas de coagulação, cianose (azulado) nos dedos por falta de circulação e até AVCs (acidente vascular cerebral)”, explica o oncologista, Dráuzio Varella.

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Sequelas eventuais

A soma das reações pode ser tão devastadora, que culmina com a falência múltipla de órgãos e a morte. Segundo o infectologista Moacyr Silva Jr, do Hospital Albert Einstein, outro agravante é que a evolução difere de pessoa para pessoa, sem um padrão definido. “Na maioria dos casos, passa como uma gripe, mas em outros a resposta imunológica é mais intensa e leva tempo para saber o que desencadeia isso”. Incertas também são as sequelas dessa inflamação, especialmente para quem foi entubado por muito tempo. Mas é certo que, assim como um corte na pele, o pulmão fica com uma espécie de cicatriz. “Essa fibrose pode levar a problemas futuros de respiração ou exigir hemodiálise a quem teve o rim afetado”, diz o infectologista Ralcyon Teixeira, do Hospital Emílio Ribas. O fato é que ainda há muito a se descobrir sobre a Covid-19.