O futebol corre perigo

“Rapaziada, pra vocês entenderem aí: o Realpe foi pro banco, certo? Só que ele mesmo indicou esse Denílson Alves, tá ligado? Aí esse Denílson Alves pediu mais R$ 5 mil de sinal. Eu vou mandar aqui agora, certo?”.

Na mensagem de áudio, enviada em 15 de outubro do ano passado, Bruno Lopez, preso sob a acusação de ser chefe do esquema de manipulação de jogos do futebol brasileiro, explicava aos comparsas que o equatoriano Léo Realpe, do Bragantino, começaria a próxima partida no banco de reservas.

Para participar do esquema em seu lugar, Realpe teria indicado ao bando outro jogador, de sua confiança, para participar do esquema em seu lugar: Denílson Alves, do Cuiabá. O nome do jogador indicado foi para a lista de apostas combinadas que a quadrilha fez na rodada seguinte do Campeonato Brasileiro.

A prática não era incomum: segundo as mensagens obtidas pelo Ministério Público de Goiás, jogadores aliciados pela quadrilha viraram aliciadores e passaram a cooptar outros atletas para o esquema. Além de Realpe, outros cinco jogadores também foram citados em conversas como responsáveis por trazer novos nomes para o bando.

Em outro caso, Thonny Anderson, então jogador do Coritiba (hoje no ABC), é suspeito de cooptar um colega de time, o uruguaio Jesús Trindade, para a quadrilha. “Esse daí é o pix do Thonny Anderson, do muleque, o que arrumou o Jesus Trindade aí, tá ligado?”, explicou Bruno Lopez aos comparsas. Na ocasião, ele havia feito um pix de R$ 30 mil para Thonny. O nome de Trindade foi parar na planilha que a quadrilha mantinha com valores que supostamente seriam pagos aos atletas.

Gabriel Tota, um dos sete jogadores denunciados pelo MPGO por participação no esquema, também atuava como uma espécie de intermediador da quadrilha dentro do Juventude, onde jogava no ano passado. Em outubro, segundo mais um áudio de Bruno Lopez, Tota teria indicado o lateral Pará, que era seu colega de time e hoje está no Santo André, para a quadrilha.

“O Tota, que é bem bróder meu, fala comigo sempre, ele falou uma coisa que foi: ‘Irmão, eu tenho mais um jogador que quer fazer, é o Pará, lateral direito, só que ele tá no banco também junto comigo’. Eu falei: ‘Irmão, só que eu não posso ter dois do mesmo time, porque se um entra, outro não entra, fode nós.

Qual é a chance de quem jogar mais, você ou ele?’. Ele falou: ‘A chance de ele entrar é muito grande e a odd dele é maior, entendeu? E pra ele, tem que mandar mais cinco mil'”, disse Lopez. Em outro áudio, o chefe do bando chegou a dizer que Tota era quem “intermediava os jogadores” do Juventude.

Vitor Mendes, hoje no Fluminense, também foi apontado como um dos aliciadores da quadrilha por Bruno Lopez. “Mendes é jogador nosso. Já quitamos ele e pagamos sinal. Ele que trouxe esse da MLS”, escreveu o apostador, em 16 de setembro. Ele se referia a um dos dois jogadores brasileiros da liga de futebol dos Estados Unidos que participavam do esquema: Max Alves, atleta do Colorado Rapids, e Zeca, do Houston Dynamo.

O GLOBO.