Flávio, Jair, Carlos e Eduardo Bolsonaro

 

Diário do Centro do Mundo

Por Moises Mendes

Bolsonaro e os três filhos formam a família mais poderosa e mais atormentada do Brasil. A mais acossada desde o Império. Bolsonaro simula que manda em quem quiser mandar, mas desconfia do porteiro do condomínio e teme os arquivos do major Olímpio, do delegado Waldir, de Bebianno e de Joice Hasselmann.

Os filhos de Bolsonaro desconfiam de todos que dizem confiar neles. Não há filhos mais assombrados por sombras e medos do que os três filhos de Bolsonararo.

Eles temem traições entre os milicianos. Desconfiam do Queiroz, dos parentes do Queiroz, dos laranjas insatisfeitos com a partilha das rachadinhas, dos robôs das fake news.

Os Bolsonaros desconfiam do vice Hamilton Mourão. Não podem confiar em Rodrigo Maia. Bolsonaro abandonou o próprio partido por desconfiar dos gestores do cofre. E desconfia de Witzel.

A família Bolsonaro não dorme em paz, como as famiglias da Sicília. Os Bolsonaros não sabem mais quem são seus inimigos, porque não sabem há muito tempo quem são seus amigos.

Desde aquela noite em que Bolsonaro comemorou a vitória gritando que eliminaria os marginais vermelhos na ponta da praia, a maldição abateu-se sobre o pai e os filhos.

Não são mais os velhos adversários que os Bolsonaros precisam abater. Desde aquele momento, desde a comemoração com o alerta aos inimigos, que os amigos dos Bolsonaros são suas verdadeiras ameaças.

Temem a memória e a alma de Marielle Franco e os rastros deixados pelos seus assassinos. Temem a presença de Sergio Moro, mesmo que o ex-juiz e Bolsonaro precisem sobreviver abraçados, até o dia em que um deles será obrigado a dar o bote. Pela frente mesmo, porque já é um bote esperado.

Bolsonaro não tem tempo para governar, porque é ocupado pela tensão permanente e pelo medo de ser traído. Bolsonaro não confia em Trump, nem em Paulo Guedes, porque Guedes fala como candidato e quer ocupar o lugar do chefe no coração do empresariado e dos golpistas.

O governo já demitiu seis generais, porque Bolsonaro não acredita na fidelidade deles. Ele, os filhos e seus subalternos fiéis tentam cuidar de cada movimento dos 2.500 oficiais empregados no governo.

Os Bolsonaros não confiam nos bispos neopentecostais e não podem confiar em ninguém da direita, dentro ou fora dos templos, porque a direita abandona seus perdedores, como abandonou Collor, Aécio, Serra, Eduardo Cunha.

Os Bolsonaros só confiam em Olavo de Carvalho, mas esse não tem poder real, não tem quartéis e nem votos. Olavo de Carvalho é o rasputin dos Bolsonaros, só tem a poção da Terra plana.

Mas os Bolsonaros ainda não estão diante de todos os seus medos. Um dia, daqui a pouco, eles poderão temer os próprios Bolsonaros, quando uns terão medo dos outros, e aí talvez já nem estejam mais no poder.