Por  Revista Fórum 

Ficar a ver navios“, “conversa pra boi dormir“, “fazer das tripas coração“: expressões populares existem enquanto há quem lembre de usá-las e quem saiba entendê-las. Mas, a cada nova geração, algumas delas vão se perdendo cada vez mais, aos poucos, até que a passagem geracional do ensinamento (ou mesmo os registros escritos da língua) já não se importem em reproduzi-las.

Um fenômeno retroalimenta o outro: o contexto das novas gerações, que não as permite usar as expressões antigas (datadas pelas inovações do tempo, da cultura e do espaço), também acaba limitando o significado que a expressão nasceu para interpretar; mas, é claro, novas expressões surgem no lugar. Perdem-se as expressões, mantêm-se os significados. Tudo bem, é normal.

Mas você já parou para pensar nas expressões que têm caído em desuso de maneira quase imperceptível? As novas gerações já não dizem “a cobra vai fumar”, expressão atribuída a um grito de guerra da Força Expedicionária Brasileira durante a II Guerra Mundial.

E talvez muito menos gente use, hoje em dia, o apelido carinhoso “chuchu”, para dizer de alguém querido e delicado.

E “fazer um gato” ainda pode ser uma expressão conhecida, mas é preciso poucos anos até que caia em desuso completo: basta a gambiarra que dá sentido à expressão, quando alguém desvia energia elétrica com um medidor ou fazendo uma ligação direta com a fiação, deixe de ser tornar comum.

De acordo com o Observatório da Língua Portuguesa, existem pelo menos 50 palavras “antigas” que têm desaparecido quase completamente das expressões mais cotidianas da língua, deixadas aos registros, aos escrituários ou à recuperação por livros e narrativas antigas.

Algumas delas são:

  • Sacripanta
    Antigamente usada para designar alguém astuto, falso ou mal-intencionado, especialmente um homem. Um “homem canalha”, por exemplo. Hoje, soa como xingamento de novela de época ou personagem de comédia.
  • Quiproquó
    Uma confusão causada por mal-entendido, geralmente cômica ou absurda, originada do latim quid pro quo. 
  • Balela
    Uma “conversa fiada” (outra expressão que já não se usa tanto), história inventada. Uma “lorota”, para resumir.
  • Lambisgoia
    Lambisgoia era uma expressão com muitos significados: de mulher fofoqueira e intrometida a brega e “fubanga” (como os jovens de hoje em dia chamam, em substituição), um sentido teatral e depreciativo.
  • Sirigaita
    Uma mulher atirada, sem-vergonha, com julgamento moral embutido.
  • Pachorra
    Pode ser muita coisa. De uma falta de urgência ou cinismo à vontade admitida de fazer algo absurdo: “Não acredito que ela teve a pachorra de fazer isso!”
  • Safanão
    Pouca gente sequer sabe do que se trata: é um tapa ou empurrão rápido e brusco, às vezes na tentativa de contenção, às vezes de punição.
    “Levou um safanão da tia”.

Outras expressões só não são mais tão comuns entre novas gerações, que têm substituído os ditados populares da oralidade por expressões ganhadas direto das redes sociais, surgidas dos “memes” (um campo muito amplo de expressão, com formatos que vão além da oralidade e incluem símbolos visuais ou expressões multilinguísticas) ou de referências da cultura pop.

Logo expressões como

  • “Nem que a vaca tussa”;
  • “Pulga atrás da orelha”;
  • “Quem tem boca vai a Roma”;
  • “Quem não arrisca não petisca”.

vão se tornar completamente obsoletas para os jovens. Algumas delas já são.